Sessão Cinematográfica

Morte e vida severina, de Walter Avancini, transposição cinematográfica do poema dramático homónimo de João Cabral de Melo Neto, noutra Sexta-feira, a de 15 de Dezembro. Severino — Severino retirante — é, aqui, a personagem principal. O seu nome é menos o de um indivíduo que o de toda uma massa de retirantes, gente sem eira nem beira, que foge à esterilidade do Nordeste brasileiro rumo ao litoral. Uma viagem no espaço, ditada pela ilusão — sempre frustrada, em cada uma das estações do seu acidentado percurso — de melhores dias, de melhor vida, de uma vida digna de ser vivida. Os sinais de esperança esmorecem a cada passo, até que ganham forma sob espécie de o nascimento de uma criança — o poema dramático de Melo Neto conforma-se, neste termo da viagem de Severino, como um auto de Natal —, um estímulo de vida tão redentor quando o nos foi trazido pelo nado em Belém, milénios atrás. Obliquamente embora, a esfera do transcendente teima em fazer-nos companhia.